Histórico

Reconhecimento às nossas principais referências

Pela primeira vez, uma cidade pode receber do Iphan o registro de patrimônio imaterial e tombamento de patrimônio material no mesmo dia

Jô Folha -

Esta terça-feira (14) pode ser um dia marcante para o reconhecimento da história de Pelotas. Pela primeira vez, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) poderá, no mesmo dia, conceder a um local as suas duas proteções, de patrimônio material e imaterial do Brasil. Serão avaliados o tombamento arquitetônico e o registro da tradição doceira de Pelotas e a Antiga Pelotas.

Quanto ao conjunto material, quatro praças (Cipriano Barcellos, Coronel Pedro Osório, José Bonifácio e Piratinino de Almeida), o Parque Dom Antônio Zattera, a Chácara da Baronesa e a Charqueada São João integram o Conjunto Histórico de Pelotas a ser analisado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Se aprovados, tanto eles quanto todo o conjunto ao seu redor passarão a ter preservação em nível nacional e gestão compartilhada entre Poder Público municipal e federal.

Para o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Guanais Queiroz, a possível aprovação titula o bem e assume a responsabilidade de atuar na salvaguarda, criando uma espécie de pacto sociocultural, protegendo o local. Ao conhecer mais de perto a cultura pelotense, ele demonstrou-se encantado com o conjunto histórico de Pelotas e as tradições de diversas vertentes coloniais. Lembrando que todos os fatores estão interligados, ele salienta que a cultura do charque levou o município a enriquecer suas estruturas arquitetônicas. Ao mesmo tempo, a cultura do açúcar trouxe a tradição dos doces vindos de diversas partes do mundo, preservando-a até os dias de hoje. "São histórias que se convergem", pontua.

Para o Iphan, uma característica particular de Pelotas é que, considerando o sistema municipal de patrimônio cultural estabelecido no Plano Diretor do município, será necessária a delimitação poligonal de entorno, pois os bens estarão totalmente inseridos nas zonas de preservação do patrimônio cultural, assegurando a conservação de toda a vizinhança e o ambiente do patrimônio preservado. Com isso, a inclusão de prédios ao redor de cada patrimônio trará a preservação a locais como a Bibliotheca Pública, o Mercado Central, a Catedral de São Francisco de Paula, a Santa Casa, chafarizes e residências históricas.

Titular da Secretaria Municipal de Cultura (Secult), Giorgio Ronna, destacou que a maioria dos locais já possui proteção em nível municipal e estadual, mas comemorou o possível reconhecimento da cultura pelotense para o país inteiro. Ele destaca que a cidade já é vista como histórica, mas a formalização é tida como uma vitória. Se for confirmado, ele crê na possibilidade de um maior fluxo de turistas no município.

Saber fazer como ninguém mais
O registro imaterial, levando em conta a tradição doceira em Pelotas, não considerará nenhum doce em específico, mas o saber fazer os doces finos, de bandeja, e doces coloniais, normalmente de frutas, em Pelotas e na Antiga Pelotas (municípios que antes pertenciam a Pelotas, como Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo e Turuçu). Dessa forma, as receitas e a forma de produção ficarão registradas como únicas aqui na região.

Arquiteta da Secult, Paulina von Laer, participou do trabalho de 2006 a 2008, que ouviu relatos e registros de atores envolvidos na produção doceira nas zonas rural e urbana, além das cidades agora emancipadas, o que gerou dois livros que estão sendo usados também como base pelo Iphan. Para ela, o destaque são os padrões, tanto originais quanto alterações, para gerar a singularidade do doce de Pelotas. "O verdadeiro patrimônio é o fazer esse doce, desta maneira, neste lugar", destacou.

E esse saber fazer é visto ao andar pelo Centro Histórico de Pelotas. Há cinco anos proprietária de uma doceria no Mercado Central, Vera Venzke conta que os dois tipos de doces tradicionais são vendidos em sua doceria, ambos produzidos em família. Enquanto os finos são feitos por seu cunhado, de origem portuguesa, os coloniais, feitos com frutas, são produzido por ela e pelas filhas, de origem alemã.

A doceira diz que a produção é uma tradição familiar vinda de várias gerações. Recorda-se de sua mãe e sua avó fazendo em fogões a lenha e tachos e, quase que por instinto, sabe fazer as mesmas receitas. "Aqui (em Pelotas), tu sempre acaba achando mais alguém que sabe fazer, né?", destaca. Em sua loja, a presença de turistas é frequente e sempre se interessam pela origem histórica dos produtos. "Se tu vai em outra cidade e come um quindim, por exemplo, não tem o mesmo gosto do quindim feito aqui", comenta.

O diretor Hermano Queiroz diz que a manutenção do método antigo é o principal fator a ser preservado. Mesmo a utilização de uma colher de madeira, ovo caipira ou tacho de cobre, fatores que podem acabar condenados por órgãos de saúde, pode ser discutida e mantida com o intuito de preservar o sabor e a tradição. "Estimula pelo menos a discussão para seguir usando esses materiais", pondera, lembrando que esse elemento poderá ser utilizado para definições de critérios em órgãos como a Vigilância Sanitária. Ele destaca que a preservação do saber fazer e não de uma receita original é para evidenciar que não existe uma hierarquia entre os doces, ou uma receita exclusiva, mas, de fato, a forma única de como as receitas são feitas aqui.

Como funciona a reunião?
Queiroz explica que um membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural - neste caso, Márcia Sant'Anna -, pesquisou a fundo tanto a história do patrimônio cultural quanto do saber fazer da tradição doceira. Na reunião, ela apresentará seu parecer, lendo seu posicionamento e apresentando material que corrobore com a sua decisão. Então, o restante do Conselho, formado por 23 pessoas tanto da área pública quanto privada, vota se segue o parecer ou não da relatora. Como são processos distintos, cada uma das definições será votada em um momento, possivelmente um em cada turno, sem ordem ainda definida. Se tudo ocorrer conforme o previsto, as decisões devem ser anunciadas no mesmo dia.

Setores do patrimônio material a serem votados
Praça José Bonifácio (10 prédios)
Praça Coronel Pedro Osório (36 prédios)
Praça Piratinino de Almeida (1 prédio)
Praça Cipriano Barcellos (3 prédios)
Parque Dom Antônio Zattera (10 prédios)
Chácara da Baronesa (2 prédios)
Charqueada São João (2 prédios)

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